quinta-feira, 28 de abril de 2011

25 de abril

Você já perdeu alguém que ama? O que você sentiu ao ver a pessoa ali deitada na sua frente, rodeada por flores, coberta por um véu de renda? É angustiante pensar que já era. Perdeu, nunca mais poderá falar o quanto sente por ela, não poderá fazer mais nada para ajudá-la.
Dia 25 de abril, eu sei que estou meio atrasada, mas ninguém tem nada com isso, fez dois anos que meu avô nos deixou. Ele era do tipo de homem que adorava atentar o juízo dos outros. Era engraçado até, mas ficava chato quando era com você. Ele era um tanto pontual. Sempre passava aqui na minha casa 9:30, 12:30 e 17:30. Sempre. O som estridente da sua lambreta anunciava a sua chegada. Numas férias de colégio, eu assisti todos os dias Chaves (naquela época passava todo dia as 17:30 no SBT) com meu avô. Eu deitada num sofá e ele no outro. Era legal, a gente dava risada de tudo, mesmo já tendo assistido todos os episódios. Era uma coisa boa.
Lembro que no sábado que ele morreu, as 9:30 ele tinha passado aqui em casa para tomar café e eu estava terminando de passar. Ele chegou todo alegre, com a pranchetinha na mão e a mesma blusa cinza de motorista. Costumamos dizer que ele foi guerreiro. Trabalhou até o ultimo dia de vida. Quando ele veio e falou comigo no sábado, reclamou que ninguém dava o que comer para ele só para encher o saco mesmo. Quando ele foi embora, pedi benção e ele daquele jeito maroto disse: Deus te abençoe, fique bem e faça almoço pro vozinho. Foram as ultimas palavras que eu ouvi dele. Ah o Nersão da motoca. Malandrinho foi rápido demais e não deu chance para despedidas. Teimoso. Sempre dava chocolate com gosto de sabão na páscoa, sempre dava 50 reais no meu aniversário. Sempre dava dinheiro para comprar pão de queijo. Quando eu falava: oo vô. Ele fala: então vá. Sempre a mesma piada boba. Sempre atentava o meu juízo.
Faz dois anos que a motoquinha silenciou.  

Um comentário:

  1. Acho que a motoquinha nunca vai silenciar no pensamentos de vocês. E eu não sei, mas de alguma forma isso deve contar para ele.
    E, fico lisonjeada de ser acompanhada por uma pessoa que escreve tão bem.
    Desde já, sou grata.

    ResponderExcluir